É de uso amplo, geral e irrestrito a utilização do EBITDA (ou LAJIDA), como queiram, e que
significa Lucro Antes de Juros, Impostos, Depreciação e Amortização, para analisar a situação
econômico-financeira de uma empresa.
Há muitos argumentos contra e a favor, e sou um dos que partilham da primeira opinião.
Vejamos: É possível comparar duas ou mais empresas apenas se utilizando do EBITDA? A
resposta é NÃO. Por várias razões:
– O EBITDA não leva em consideração a estrutura de capital da empresa;
– O EBITDA não considera a necessidade de capital de giro;
– O EBITDA não leva em conta a política de investimentos da empresa;
– O EBITDA não leva em conta inadimplência de clientes ou com fornecedores, impostos
em atraso, etc;
Não podemos afirmar que duas empresas com o mesmo EBITDA são avaliadas da
mesma forma.
Uma empresa com margem EBITDA de 5% é pior do que uma empresa com 15%? Mesmo se
forem do mesmo setor não podemos afirmar, pois temos que verificar sua estrutura de capital,
necessidade de investimentos, capital de giro, etc. Somente concordo com esta afirmação se
ambas as empresas tiverem o mesmo perfil operacional e financeiro.
Por que esta idolatria pelo indicador?
Os que o defendem afirmam que é um indicador fácil de calcular, simples e intuitivo, e que
serve para comparar empresas de um mesmo setor.
Concordo que é simples de calcular. Se desejarmos comparar duas ou mais empresas, porque
não utilizamos a Margem Bruta ou Margem Operacional, ou até mesmo a Margem Líquida ou
Rentabilidade do Capital Empregado? Tais indicadores também são simples e intuitivos e
servem para o mesmo propósito.
ARGUMENTO DE MARKETING?
Muitos executivos de finanças se gabam de ter elevado o EBITDA de uma empresa em x%
durante um determinado período de sua gestão. Entretanto, quando analisamos com mais
cuidado, vemos que a situação econômico-financeira da empresa não só não evoluiu, como se
deteriorou no mesmo período.
Outro exemplo: Várias empresas de capital aberto, quando publicam seus releases de
resultado trimestral, dão grande destaque ao EBITDA. Não é incomum depararmos com
manchetes do tipo “A empresa apresentou um crescimento de x% em sua margem EBITDA em
relação ao período anterior (ou em relação ao mesmo período do ano anterior)”. Quando
analisamos com mais cuidado, em alguns casos a empresa teve um prejuízo enorme, devido ao
alto peso do endividamento ou à inadimplência.
Em minha carreira de executivo de finanças, particularmente em Fusões e Aquisições, já me
deparei com situações em que os acionistas controladores uma empresa alvo de aquisição
queriam um preço por suas ações baseando-se simplesmente em um múltiplo de EBITDA.
Alegam que o “mercado” paga x vezes o EBITDA para empresas do mesmo setor. Pergunta-se:
a empresa não terá que pagar suas dívidas? A empresa não terá que fazer investimentos para
manter atualizado seu parque industrial? A empresa não tem que lidar com a necessidade de
capital de giro?
Será que esta idolatria não tem mais a ver mais como um argumento de marketing do que um
indicador valioso? Pergunto isto pois vemos esta ênfase particularmente em épocas de euforia
nos mercados acionários, onde um grande número de empresas abrem seu capital. Nisto
colaboram alguns Bancos de Investimento que assessoram tais empresas, procurando dar um
destaque ou “empacotar” as ações como um bom investimento. Vimos muito destas situações
no mercado americano durante a bolha das ações de tecnologia, onde muitas empresas não
possuíam nada muito além de um simples website. Também vimos muito esta situação aqui no
Brasil durante a euforia do mercado acionário no período de 2006 a 2010. Sabemos que
empresas lançaram ações e nada mais tinham do que a “promessa” de apresentar um elevado
EBITDA em curtíssimo prazo. Há casos em que não passavam de simples projetos. A história
revelou a verdade, com a quebra de algumas delas.
Outro argumento a favor do EBITDA é de que o indicador serve para comparar empresas de
um mesmo setor, pois mostra a capacidade de geração de caixa de um negócio.
Será?
Em quase que a totalidade dos casos, o EBITDA não se aproxima nem de perto do caixa gerado
pelo negócio.
Enfim, gostaria de ressaltar que não devemos descartar este indicador. Devemos analisar o
índice em conjunto com os demais indicadores de análise contábil, econômica e financeira. O
que não concordo é com a demasiada ênfase como um indicador mágico.
Nelson de Andrade
Fevereiro/2017
Executivo com mais de 30 anos de experiência em Corporate Finance e Fusões & Aquisições. É
atualmente Sócio-Diretor da EB Andrade Consultoria Empresarial Ltda., boutique especializada
em avaliação de empresas, restruturação organizacional, reorganização financeira, estratégia
e inovação. Veja serviços EB Andrade